NÃO CONFIE DEMAIS NOS AMIGOS. APRENDA A USAR OS INIMIGOS
levados à inveja. Eles também se tornam mimandos e tirânicos. Mas contrate um ex-inimigo e
ele lhe será mais fiel do que um amigo, porque tem mais a provar. De fato, você tem mais o que
temer por parte dos amigos do que dos inimigos. Se você não tem inimigos, descubra um jeito
de tê-los.
Ninguém acredita que um amigo possa trair.
Amigos são como os dentes e a mandíbula de um animal perigoso, se você não toma
cuidado eles acabam mastigando você.
É natural querer empregar os amigos quando você mesmo está passando por dificuldades.
O mundo é árido e os amigos o suaviza. Além do mais você os conhece. Por que depender de
um estranho quando se tem um amigo à mão?
O problema é que nem sempre se conhece os amigos tão bem quando se imagina. Eles
costumam concordar para evitar discussões, disfarçam suas qualidades desagradáveis para não
se ofenderem mutuamente. Acham graça demais nas piadas uns dos outros. Visto que a
honestidade raramente reforça a amizade. Você talvez jamais saiba o que um amigo realmente
sente. Eles dirão que gostam de poesia, adoram a música, injevam o seu bom gosto para se
vestir – talvez estejam sendo sinceros, com freqüência não estão.
Quando você decide contratar um amigo, aos poucos vai descobrindo as qualidades que
ele, ou ela, estava escondendo. Curiosamente, é o seu ato de bondade que desequilibra tudo. As
pessoas querem sentir que merecem a sorte que estão tendo. O recibo por um favor pode ser
opressivo: significa que você foi escolhido porque é um amigo, não necessariamente porque
merece. Existe quase um ato de condenscendência no ato de contratar os amigos que no íntimo
os aflige. O dano vai surgindo lentamente: um pouco mais de honestidade, lampejos de inveja e
ressentimento aqui e ali e, antes que você perceba, a amizade se foi. Quanto mais favores e
presentes você distribuir para reavivar a amizade, menos gratidão receberá em troco.
A ingratidão tem uma longa e profunda história. Ela tem demonstrado seus poderes há
tantos séculos que é realmente interessante que as pessoas continuem subestimando-os. Melhor
prestar atenção. Se você nunca espera gratidão de um amigo, vai ter uma agradável surpresa
quando eles se mostrarem agradecidos.
O problema de usar ou contratar amigos é que isso inevitavelmente limitará o seu poder.
É raro o amigo ser a pessoa mais capaz de ajudar você; e, afinal, capacidade e competência são
muito mais importantes do que sentimentos de amizade.
Todas as situações de trabalho exigem uma certa distância entre as pessoas. Você está
tentando trabalhar, não fazer amigos; a amizade (real ou falsa) só obscurece esse fato. A chave
do poder, portanto, é a capacidade de julgar quem é o mais capaz de favorecer os seus interesses
em todas as situações. Guarde os amigos para a amizade, mas para o trabalho prefira os capazes
e competentes.
Seus inimigos, por outro lado, são uma mina de ouro escondida que você deve aprender a
explorar.
Como disse Lincoln, você destrói um inimigo quando faz dele um amigo.
Sem inimigos a nossa volta, ficaríamos preguiçosos. Um inimigo nos calcanhares aguça a
nossa percepção, nos mantém concentrados e alertas. Às vezes, então, é melhor usar os inimigos
como inimigos mesmo, em vez de transformá-los em amigos ou aliados.
Um inimigo nitidamente definido é um argumento muito mais forte a seu favor do que
todas as palavras que você conseguir usar.
Jamais deixe que a presença de inimigos o perturbe ou aflija - você está muito melhor
com um ou dois adversários declarados do que quando não sabe quem é o seu verdadeiro
inimigo. O homem de poder aceita o conflito, usando o inimigo para melhorar a sua reputação
como um lutador seguro, em quem se pode confiar em épocas incertas.
O INVERSO
Embora em geral seja melhor não misturar trabalho com amizade, há momentos em que
um amigo pode ser mais eficaz do que um inimigo. Um homem de poder, por exemplo,
freqüentemente precisa fazer um trabalho sujo, mas, para salvar as aparências, é melhor deixar
que outros façam isso por ele: os amigos são os melhores, visto estarem dispostos a se arriscar
pelo afeto que sentem por ele. Além disso, se os seus planos gorarem por algum motivo, o
amigo é um bode expiatório muito conveniente. Esta “queda do favorito” era um truque usado
com freqüência por reis e soberanos: eles deixavam que o seu melhor amigo na corte assumisse
a responsabilidade por um erro, visto que o público não acreditaria que eles deliberadamente
sacrificassem um amigo com esse propósito. E claro que, depois de fazer essa jogada, você
perdeu o seu amigo para sempre. E melhor, portanto, reservar o papel de bode expiatório para
alguém chegado a você, mas não muito.
Finalmente, o problema de trabalhar com amigos é que isso confunde os limites e as
distâncias que o trabalho exige. Mas, se ambos os parceiros no arranjo compreendem os perigos
envolvidos, um amigo pode ser muito eficaz. Você não deve jamais baixar a guarda nessa
aventura, entretanto, fique sempre atento a qualquer sinal de perturbação emocional, tal como
inveja e ingratidão. Nada é estável no reino do poder, e mesmo os amigos mais chegados podem
se transformar nos piores inimigos.
“Os homens apressam-se mais a retribuir um dano do que um benefício, porque a gratidão é
um peso e a vingança um prazer.”
Tácito
“Muita gente pensa que um príncipe sábio deveria, tendo oportunidade, incentivar
astuciosamente uma inimizade uma inimizade, de forma que, ao elimina-la, ele possa aumentar
a sua grandeza. Os príncipes especialmente os novos, encontraram mais fé e utilidade naqueles
homens a quem, no início do seu poder, viam com suspeita, do que naqueles em quem
começaram confiando.”
Nicolau Maquiavel
“Saiba tirar vantagem dos inimigos. Você precisa aprender que não é pela lâmina que se
segura a espada, mas pelo punho, para poder se defender. O sábio lucra mais com seus
inimigos do que o tolo com seus amigos.”
Baltasar Gracián.