Contam os poetas que Júpiter, à cata de amores, as-
sumia inúmeras formas diferentes: boi, águia, cisne,
chuva de ouro. No entanto, quando cortejou Juno,
transformou-se na figura mais ignóbil possível, objeto
de desdém e ridículo, a de um mísero cuco saído da
tempestade, espantado, trêmulo e semimorto.
Eis aí uma fábula perspicaz, derivada das profundezas
da ciência moral. O significado é que os homens não de-
vem cuidar que a ostentação de virtudes e méritos lhes
acarretará a estima e o favor de todos, pois isso depende
da natureza e caráter daqueles a quem se dirigem. Sendo
estes pessoas desapercebidas e sem ornato próprio, dota-
das apenas de orgulho e disposição maliciosa (tipo sim-
bolizado por Juno), devem reconhecer que o melhor
será despojar-se de tudo quanto alardeie honra ou dig-
nidade, já que seria loucura proceder de outro modo.
Não lhes basta descer à vilania e à bajulação, é preciso
passarem exteriormente por abjetos e degenerados.